quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

Em que medida a Tecnologia em Tradução ajuda na prática tradutória?


Resumo: O objetivo deste artigo é mostrar as características gerais da tecnologia em tradução. Apresenta os principais softwares e, a partir de exemplos, indica até que ponto o profissional pode fazer um bom uso desses recursos computacionais.

Palavras-chave: Tradução; tecnologia em tradução; eficácia.

Résumé: L’objectif de ce travail c’est exposer les caracteristiques plus importantes de la technologie dans la traduction. Il présente les principals programmes d’um ordinateur et, à travers d’examples, indiquer à quel limite le professionel peut faire um bon usage de ces moyens technologiques.

Mots Clefs: Traduction; technologie dans la traduction; efficacité.


Introdução

Os primeiros estudos acerca da tecnologia em tradução objetivavam a criação de um recurso automático que pudesse auxiliar o tradutor em seu trabalho, diferentemente da crença popular de que estes foram criados para substituí-los – o que não quer dizer que inexistam pesquisas nesse campo. Dessa forma surgiram diferentes tipos de programas de computador como as “memórias de tradução” e os “tradutores automáticos”, por exemplo.
Hoje estes diferentes tipos de softwares são adotados por alguns tradutores que os julgam auxiliantes. Há, porém, profissionais que consideram que essa tecnologia não trouxe grandes mudanças no trabalho profissional. Até mesmo entre especialistas da área há opiniões divididas com relação à eficácia desses programas e se estes fazem alguma diferença na hora de traduzir. Os computadores podem ajudar os tradutores com relação à pesquisa e até mesmo agilizar seu trabalho, mas ainda não são capazes de substituir o trabalho humano.

1. A tecnologia na prática tradutória

A tradução automática nasceu de uma calculadora científica em meados da década de 40, mas só foi desenvolvida após o fim da Segunda Guerra Mundial, início da Guerra Fria, em uma corrida entre norte-americanos e russos para o desenvolvimento de novas tecnologias. Muitas pesquisas foram financiadas na busca de um recurso computacional que pudesse agilizar – e para os mais pretensiosos, substituir – o trabalho do tradutor, com mais rapidez e com a mesma precisão. Porém, não foi levada em consideração questões lingüística importantes como a contextualização do texto de partida para o texto de chegada ou a ambigüidade lexical. Mesmo assim, as pesquisas avançaram e inúmeros programas foram criados e aperfeiçoados.
Hoje possuímos uma diversidade de softwares que intencionam auxiliar o trabalho do tradutor proporcionando mais rapidez na realização da tradução. Há dois tipos de programas de tradução automática que são os mais comuns: as “memórias de tradução” e o próprio “tradutor automático”. A memória de tradução consiste em guardar as traduções do profissional para que esta seja utilizada posteriormente. Ela é mais vantajosa para os tradutores que estão em contato com o mesmo tipo de linguagem, pois como já foi mencionado anteriormente, diferentes textos podem conter a mesma palavra, mas com significados distintos. O tradutor automático consiste em fazer uma tradução bem aproximada do texto de partida. Segundo Nirenburg, estes processos podem ser tanto mais simples e modestos como complexos e ambiciosos, porém, cabe a nós classifica-los em mais ou menos eficientes (1987).
Segundo uma pesquisa feita por Carolina Alfaro¹, com o programa de tradução automática SYSTRAN, aponta inúmeras falhas simples. Vejamos o exemplo da crônica de Veríssimo traduzida sem nenhuma correção prévia:


“Insolência” ²


O Jorge Furtado comprou um programa de traduções para o seu computador e fez uma experiência. Digitou toda a letra do nosso Hino Nacional em português e pediu para o computador traduzi-la sucessivamente em inglês, francês, alemão, holandês etc. Do português para o inglês, do inglês para o francês e assim por diante até ser traduzida da última língua de volta para o português. Segundo o Jorge, a única palavra que fez todo o circuito e voltou intacta foi "fúlgidos". Em inglês, "salve, salve" ficou "hurray, really hurray" e parece que em alemão o texto ficou irreconhecível como hino mas, em compensação, reformula todo o conceito kantiano de transcendentalismo enquanto categoria imanente do ser em si.
Vou sugerir ao Jorge que faça outro teste e peça para o computador traduzir um texto em que conste a expressão "barato estranho", só para dar boas risadas. Confesso que o meu barato é ver computador ridicularizado. Um pequeno gesto de resistência, à beira da obsolescência. Não posso mais viver sem o computador, mas a antipatia cresce com o convívio. Agora comprei um programa de texto à prova de erro ortográfico. O computador não me deixa errar, por mais que eu tente. Subverte o que eu tenho de mais pessoal e enternecedor e sublinha a palavra errada em vermelho insolente. A palavra "agora", aí em cima, apareceu na tela sublinhada. Ele está provavelmente sugerindo que talvez eu queira escrever "ágora", praça das antigas cidades gregas. Não, "ágora" também saiu sublinhada. Sua mensagem é que eu tenho uma escolha entre as duas palavras, sua insinuação é que eu não sei a diferença. E quando não existe opção e o que eu escrevi está irremediavelmente errado - ele corrige sozinho! Eu tento repetir o erro, só para mostrar que alguns dos nossos ainda não se intimidaram, e ele não deixa.
Sei que não demora o programa que corrigirá sintaxe, pontuação e concordância e ainda fará comentários irônicos sobre o estilo. Que venha. Tradução eles não sabem fazer. Rá!


Tradução:


Insolence


The Stolen Jorge bought a program of translations for its computer and made an experience. The letter of our National Hymn in Portuguese typed all and asked for successively for the computer *traduziz it in English, Frenchman, German, Dutch etc. Of the Portuguese for the English, of the English for the Frenchman and thus for ahead until being translated of the last language in return for the Portuguese. According to Jorge, the only word that made the circuit all and came back *intacta " was *fúlgidos ". In English, " he saves, he saves " he was " hurray, really hurray " and seems that in German the text was *irreconhecível as hymn but, in compensation, all reformulates the *kantiano concept of *transcendentalismo while category *imanente of the being in itself.
I go to suggest the Jorge who makes another test and part it computer to translate a text where the strange " cheap " expression consists, to only good laugh. I confess that my cheap one is to see computer *ridicularizado. A small gesture of resistance, to the side of the obsolescence. I cannot more life without the computer, but the *antipatia grows with the conviviality. Now I bought a program of text to the test of *ortográfico error. The computer does not leave me to make a mistake, no matter how hard I try. *Subverte what I have of more personal and *enternecedor and underlines the word missed in red *insolente. The word " now ", there in top, appeared in the underlined screen. It is probably suggesting that perhaps I want to write " *ágora ", square of the old cities Greeks. Not, " *ágora " also left underlined. Its message is that I have a choice between the two words, its hint is that I do not know the difference. E when option does not exist and what I wrote *irremediavelmente is missed - it corrects alone! I try to repeat the error, only show that some of ours had still not been intimidated, and it does not leave.
I know that it does not delay the program that will correct syntax, and agreement and still will make ironic commentaries on the style. That it comes. Translation they do not know to make. *Rá!

Ao fazer a tradução, conclui a autora que é possível ter uma noção superficial do assunto tratado no texto de partida, mas estes softwares não agilizam o trabalho do tradutor e mantêm o tempo médio que um trabalho unicamente humano teria ao traduzir. A partir dessa observação serão apresentados alguns aspectos de diferentes visões acerca dessa tecnologia a fim de chegar a uma conclusão sobre a eficácia desses tipos de recursos computacionais na área da tradução.


2. Facilidades e benefícios


A internet proporcionou um aumento significativo do trânsito de dados acompanhado de uma produção maior de informações. A tradução tem um papel essencial ao viabilizar a compreensão dessas informações que certamente não são todas escritas em uma mesma língua. Essas traduções têm a necessidade de serem tão rápidas quanto à movimentação das informações. A tecnologia em tradução contribui para o trabalho do tradutor no que se diz respeito ao acesso rápido a traduções instantâneas.
O software que tem crescido quanto ao número de usuários são as Memórias de Tradução ou em inglês “Translation Memory”. A TM, que tem por finalidade armazenar traduções já realizadas, é utilizada principalmente por grandes empresas, que fazem sempre o uso do mesmo jargão técnico. Empregadas nesse tipo de situação, a TM agiliza as traduções aumentando relativamente a produtividade do tradutor. Esse tipo de tecnologia já é aceita na Europa e nos Estados Unidos. No Brasil as empresas estão testando a real eficácia desses programas e os adeptos são, ainda, minoria. Por sua vez, os tradutores automáticos viabilizam rapidez quanto a compreensão do assunto contido no texto inicial. Ele se torna útil em trabalhos rápidos que são somente a nível de informação.
O avanço no trabalho tradutório que a tecnologia trouxe foi considerável, mas é necessário que o profissional saiba fazer usufruto desses recursos, além de estar sempre atento às falhas contidas nesses programas.



3. Riscos e limitações



Tendo tecido considerações sobre a utilidade da tecnologia em tradução, deve-se agora apresentar recursos que chamam a atenção do tradutor quanto às limitações desses meios computacionais.
Como já apresentadas anteriormente, as falhas nos programas de tradução automática e memórias de tradução são claramente identificadas. Os programas não conseguem diferenciar características essenciais para a apresentação de uma boa tradução. Alguns exemplos frequentemente usados por teóricos apresentam a dificuldade que estes programas encontram para identificar o sentido do texto original. Vejamos o exemplo:

Um Amor para recordar – Sinopse
Essa é a comovente história de Landon, o rapaz mais popular da escola. Desajustado e agressivo, ele se apaixona por Jamie, uma menina que vive em outro mundo. Filha do pastor da pequena cidade, é estudiosa e compenetrada. Jamie nunca imaginou conversar com Landon, quanto mais se apaixonar perdidamente por ele.Mas o destino que os uniu, vai também lhes pregar uma peça. O lindo romance entre Landon e Jamie será Um Amor para Recordar.Um Amor para Recordar é o Romeu e Julieta do Século 21. Um filme inesquecível que merece ser descoberto.

Tradução:

A Love to remember - Synopsis

This is the impressive history of Landon, the youngster most popular of the school. Misadjusted and aggressive, it if it gets passionate for Jamie, a girl who lives in another world. Son of the shepherd of the small city, studious and is compenetrada. Jamie never imagined to talk with Landon, the more if to get passionate madly for it. But the destination that joined them, also goes to nail a part to them. The pretty romance between Landon and Jamie will be a Love To remember. A Love To remember is the Romeu and Julieta of Century 21. One has filmed inesquecível that it deserves to be discovered.


Ao traduzirmos este trecho percebemos que este perdeu parte de seu sentido e características originais. Isso acontece principalmente em textos literários e técnicos, em que as terminologias são bem específicas. Outro exemplo, não menos comum, diz respeito à ambigüidade. Geralmente elas não são repassadas para o texto de chegada quando traduzidas por um programa de computador. O exemplo a seguir, mostra a perda do sentido ambíguo que possui o poema de Baudelaire:

Le vin des amants³

Aujourd'hui l'espace est splendide !
Sans mors, sans éperons, sans bride,
Partons à cheval sur le vin
Pour un ciel féerique et divin !

Comme deux anges que torture
Une implacable calenture,
Dans le bleu cristal du matin
Suivons le mirage lointain !

Mollement balancés sur l'aile
Du tourbillon intelligent,
Dans un délire parallèle,

Ma soeur, côte à côte nageant,
Nous fuirons sans repos ni trêves
Vers le paradis de mes rêves !


Tradução:


O vinho dos amantes

Hoje o espaço é esplêndido!
Sem lâminas, sem éperons, sem freio,
Partem à cavalo sobre o vinho
Para um céu feérico e divino!

Como dois anjos que tortura
Um implacável calenture,
Azul no cristal da manhã
Seguem o mirage remoto!

Suavemente equilibrados sobre a asa
Da turbilhão inteligente,
Num delírio paralelo,

A Minha irmã, costa à costa que nada,
Fujiremos sem descansos nem trêves
Para o paraíso dos meus sonhos!

É necessário que o profissional tenha consciência de que estes programas não servem para substituir o seu trabalho, mas sim para auxiliá-lo na hora da tradução. Ainda assim, a ajuda oferecida por essa tecnologia, na maioria das vezes, é limitada e exige a atenção do profissional.

Conclusão

Podemos observar que a tecnologia em tradução trouxe vantagens para o profissional da área em alguns aspectos. A inteligência artificial ainda não é capaz de substituir o trabalho humano, pois não consegue diferenciar características terminológicas únicas de cada texto. É necessário que o tradutor saiba fazer bom uso dessas ferramentas e que não as torne uma espécie de material essencial para a boa conduta de seu trabalho. Muito mais que transpor o texto de uma língua para outra, o ofício da tradução requer pesquisa e familiarização como o texto de partida, além de saber interpreta-lo, ofício esse que um programa de computador é capaz ainda de executar.




Notas

1 – ALFARO, Carolina. Monografia de fim de curso. “Descobrindo, Compreendendo e Analisando a Tradução Automática”. In < http://www.tecgraf.puc-rio.br/~carolina/monografia/introducao.html >.
2 – VERÍSSIMO, Luiz Fernando. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 1997.
3- BAUDELAIRE, Charles de. Fleurs du mal. 1857.


Bibliografia Consultada:

ALFARO, Carolina. Monografia de fim de curso PUC-RIO. “Descobrindo, Compreendendo e Analisando a Tradução Automática”. In < http://www.tecgraf.puc-rio.br/~carolina/monografia/introducao.html >. Acesso: 15 nov.

ANDERMAN, Gunilla. ROGRES, Margaret. Words, words, words; the translator and the language learner. Clevedon: Multilingal Matters, 1996.

ALVES, Fábio et al. Traduzir com autonomia: estratégias para o tradutor em formação. Editora Contexto. São Paulo, 2006.

Home page do SYSTRAN. <http://www.systransoft.com/> . Acesso em 20 de nov.

SAMUELSSON-Brown, Geoffrey. A Practical Guide for Translators. 4ª ed. Multilingual Matters, 1998.

Nenhum comentário: